Fico aqui pensando quando você vai entrar na minha vida, estou aqui procurando a cada esquina, paro, reparo, olho sorrisos, tento te encontrar em alguma letra de música que faça sentido. Respiro fundo, acordo cedo, escovo os dentes, lavo o rosto, olho pro espelho e me indago sobre o tanto que a vida tá chata. Pego o trânsito, buzino pro motorista que fez uma ultrapassagem incorreta, me irrito, aumento a música e lá vem aquela música que bate uma solidão na gente. O tempo passa, as horas voam, e nossos minutos são repletos de tarefas e coisas, mas a verdade é que queria um minuto da sua vida na minha.
E eu tento me lembrar o quanto fui feliz com alguém e lembro que faz tempo que alguém não balança minha vida, alguém que encha meus dias de felicidade, alguém que me faça surpresa do nada, que liga à tarde só pra saber se estou bem. E não é que bate um bad, bate aquela tristezinha de ter tudo mas não ter nada.
Cadê você nos meus dias, no porta retrato em cima da minha escrivaninha? Cadê você nas minhas inspirações que escrevo e guardo numa caixinha e as vezes abro, leio e sorrio? Não é que difícil encontrar alguém, é difícil encontrar alguém que parece com a gente, que sabe falar nosso abc, que olhe nos olhos como ninguém, que sente saudade logo depois de te deixar na porta de casa. Falta aquele abraço que a gente abraça e fica lá sem vontade de soltar. Falta alguém pra gente dormir nos ombros e ficar falando sobre tatuagens que nunca vamos fazer, sobre viagens até o fim do mundo ou até naquela pousadinha.
Cadê você pra correr risco comigo, de dar a louca, pegar o mochilão e acampar e fazer trilha? Cadê você pra perder medos comigo quando o mundo já é certinho e cheio de não me toques demais?
A gente não acha, e não dá espaço pra encontrar, faltam cafés pra gente conversar, sobre imprevisto aéreos, sobre músicas, cifras e partituras. Falta gente que chame a gente de: você é especial pra mim, você me faz feliz. Gente que chama a gente de linda e gostosa tem demais, mas cadê você que me chama de minha linda? Cadê você que sabe que sou só sua e faria de tudo pra continuar sendo a única?
Cadê você pra gente dividir um sorvete de casquinha e limpe a ponta do meu nariz quando insisto em ser o desastre de tanta bagunça? Cadê você que acorda cedo também, que se estressa com um paciente, cliente, que não segue tudo que você diz? Cadê você que gosta de árvore, cachoeira que chega final de semana e só pensa em ir pra uma cidade no interior, ficar abraçadinho e beber um bom vinho?
Cadê você hein? porque estou aqui, tão exigente com você, tão exigente comigo, tão fechada pro amor, tão cansada de elogios sem fundamentos, tão desiludida com as pessoas que conheço, tão desconfiada se as pessoas são de verdade mesmo, tão triste em dizer adeus.
Me grita, vá atras, me chame pra um café, me fale: tô com um livro legal sobre peixes quer ler? mesmo que seja chato. Cadê você que sabe falar além dessas superficialidades materiais do mundo? se você existe me procure, porque eu estou cansada de te procurar.
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